Major que negocia voto com traficante se embaralha na TV no programa do governo (deu no blog do Hiel)

Por Hiel Levy

Foi deprimente a aparição, hoje, do major Brandão, o homem que aparece na revista Veja negociando votos com o traficante Zé Roberto, no programa da coligação governista. Ele tentou desqualificar as gravações sem citá-las, inventou uma tentativa de suborno sem dizer o autor e não explicou uma coisa muito simples: por que o traficante usa várias vezes a palavra voto?

Brandão, que se diz um “ficha limpa”, sem nenhuma mancha no seu currículo de policial, apareceu nervoso, tenso. Disse que as gravações publicadas pela maior revista de informação do país eram “montadas” e foram divulgadas “fora de ordem”. Afirmou que não se referia ao governador José Melo quando agradeceu o apoio e sim ao secretário de Justiça, o coronel Lourismar Bonates.

O oficial garantiu que foi ao Compaj para evitar uma rebelião, já que presos estavam ameaçando se rebelar e matar dez detentos. Não foi falar de eleições.

Cabe, então, uma pergunta: por que o traficante só fala em votos, em negociação, em proteção? Quando afirma que ninguém vai mexer com o bando de Zé Roberto, a troco de que Brandão dá essa garantia?

No final, o repórter ainda constrange Brandão, perguntando o que ele achou da própria exoneração. Visivelmente abalado, o major diz que “o cargo é do governador” e no momento em que começa a se exaltar, dizendo que tem família, a gravação é interrompida.

O mais constrangedor mesmo foi que, depois dessa entrevista, o público pode ouvir os diálogos dele com Zé Roberto. E viu como a maior revista nacional tratou do assunto.

Hoje o maior jornal do país, a Folha de S. Paulo, também entrou no tema. E o Ministério Público disse que vai investigar.

Enquanto isso, os aliados de Melo tentam jogar o assunto no limbo das trocas de acusações pré-eleitorais.

E fica parecendo que, entre os donos da mídia local, não existem pais de família. Nenhum deles se preocupou em noticiar o assunto, à exceção, honrosa, da rádio Cidade. Ao que tudo indica, o veterano Antonio Malheiros, dono do veículo, é o único que está preocupado com os rumos de um Estado em que bandidos fazem o que querem dentro dos presídios e ainda têm a regalia de negociar voto com as autoridades.

O que adianta ganhar milhões e ver um filho perdido para as drogas? Ou pior: abatido em um assalto?

É para isso, infelizmente, que estamos caminhando. Com toda complacência da mídia local…

Artigo anteriorCrime organizado está dando as cartas
Próximo artigoGravações que revelam governo do Amazonas negociando apoio de facção criminosa repercute no Cidade Alerta